05/10/2022 | Sem categoria

Modelo Biopsicossocial de Tratamento da Dor

Seu cérebro, suas emoções, seus pensamentos, o ambiente onde vive, as pessoas e o trabalho passam a influenciar diretamente sua percepção da dor.  Seu organismo libera químicos que vão e vêm do cérebro deixando o sistema todo bagunçado, como se fosse um emaranhado de fios onde alguns estão desencapados.

Mas vamos por partes, o que você pensa e sente, o ambiente ao seu redor, sua fisiologia e sua biologia influenciam sua dor.  Como assim?  

Há 40 anos, o psiquiatra George L. Engel, numa palestra antológica, traçou o campo do que até hoje se conhece por “modelo biopsicossocial da medicina”.

O modelo diz o seguinte:  Toda doença é influenciada por fatores: 1. Biológicos, inflamação, imunidade, exames de sangue alterados, infecções e desarmonias fisiológicas. 2. Psicológicos, pensamentos, emoções, sentimentos, ansiedade, depressão entre outros transtornos da saúde mental. 3. Sociais, relações familiares, trabalho, amigos, cultura, status socioeconômico, rede de apoio.

Então Engel propôs que os médicos e profissionais de saúde olhassem para o paciente como um todo e não apenas para o sintoma.  Mas infelizmente o modelo não foi aceito e ainda hoje, sofremos dificuldades de implementar esse olhar para muitos especialistas da saúde.

Na maioria das faculdades de medicina e outras áreas da saúde, não é ensinado aos alunos o manejo da dor e o modelo biopsicossocial, porque não é interessante ter um profissional que não saiba atender um paciente por mais de 10 a 20 minutos.  Infelizmente, hoje em dia, uma consulta médica que seja feita com calma, de forma investigativa e avaliativa, levando em consideração o paciente como um todo é privilégio de poucos, para aqueles que têm poder aquisitivo alto.  Na rede pública e nos planos de saúde é raro ter um profissional que tenha condições de usar o modelo biopsicossocial ou que a estrutura do ambulatório ou hospital permita que a consulta dure um pouco mais de tempo.

Como anda o cenário hoje?  Estamos crescendo e expandindo o conceito e cada vez mais vamos conscientizando profissionais da saúde e pacientes a trazerem para a consulta médica um olhar mais amplo para além da doença e sintomas.  Devemos olhar para o paciente de forma global, como ele está biologicamente, psicologicamente e socialmente e assim poder traçar um plano terapêutico eficiente.  Não adianta falar que o paciente tem que fazer, terapia, tomar remédio, fazer exercício, acupuntura, meditação e dormir bem sem avaliar se isso é possível para esse paciente e juntos pensar em estratégias acessíveis e viáveis.  Mudança de estilo de vida é sempre possível para todas as classes sociais.  Às vezes, temos mais barreiras e dificuldades em pessoas de baixa renda, mas com uma boa rede de apoio podemos fazer um passo de cada vez.  

 

Quando o sintoma de dor aparece, as pessoas se preocupam, mas cada um reage de um jeito.  O que sabemos é que todos nós temos um sistema modulatório de dor.  Se pisarmos em um prego, vai uma mensagem do pé até o cérebro e reagimos com um ai ai ai e logo tiramos o pé do perigo.  Logo na sequência do comando neuromuscular do movimento do pé, o cérebro libera químicos analgésicos para remediar a sensação de desconforto. Em alguns minutos, se não tiver um corte ou furo a sensação passa.  Se houver uma lesão o cérebro continua liberando químicos, o local fica quente,  vermelho e inchado (resposta normal do corpo).  Com a dor crônica esse sistema fica totalmente desregulado e sentimos dor quando não tem ameaça, o corpo não consegue liberar esse químicos com eficiência, processos inflamatórios vem sem avisar  e o caos se instala.  O nosso emocional fica todo sensível gerando ansiedade, depressão, insônia etc…

Às vezes somos afastados do trabalho e temos perdas econômicas e sociais.  Por isso precisamos olhar para tudo isso para cuidar do paciente como um todo.

Convido você paciente a ser protagonista da sua saúde e cobrar dos profissionais uma abordagem biopsicossocial ou ao menos contar para eles como você se sente além dos sintomas e pedir que ele ou ela olhem para isso junto com você.

 

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